segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O espelho

A pequena Kimi era o retrato vivo, a miniatura de sua mãe Hideno.
Tinha o mesmo rosto comprido, a pele clara e a mesma fronte alta. Os cabelos, preto-azulados, eram iguais, e os olhos oblíquos e cintilantes sob as pálpebras semi-abertas eram os mesmos.
Apesar dos vinte anos de diferença, podia-se pensar que elas eram irmãs gêmeas. E não se pareciam apenas fisicamente, pois gostavam das mesmas coisas. O afeto que as unia era  tão grande que só se sentiam felizes quando estavam juntas.
Certo dia, Hideno ficou muito doente. Sofria muito ao pensar que um dia deveria deixar o mundo de ternura que sua linda filha de oito anos lhe proporcionava.
E como sofreria a pobre Kimi! Hideno procurava encontrar um meio de atenuar essa dor tão atroz para sua filha.
Um dia, chamou a menina e disse-lhe:
-Talvez eu me vá logo para o país onde todos nos encontraremos um dia . . . Não chore pequena Kimi . . . Ouça-me com atenção porque tenho algo muito sério e confortante a lhe dizer. . . Quando eu não estiver mais ao seu lado, estarei igualmente com você. . .
Hideno pegou uma grande caixa que seu marido lhe deixara e prosseguiu:
-Pegue esta caixa . . . Não a abra enquanto eu estiver viva. Quando eu me for, você poderá abri-la, mas sempre em circunstâncias muito especiais. Por exemplo quando você estiver triste ou alegre. Então meu rosto aparecerá no fundo da caixa e você sentirá que eu estarei com você nos momentos de dor e nos momentos de felicidade. . .
Alguns dias depois, Hidemo morreu.
Cheia de tristeza, a pobre Kimi abriu a caixa.E o que foi que viu? Sua mãe, sua querida mãe chorando com ela. . . ela estava lá, pronta a participar de seus sentimentos. . .
E assim o tormento de Kimi se acalmou um pouco.
Desde então abria sempre a caixa para dividir suas maiores tristezas e alegrias com sua mãe. E Hideno participava de todos os seus momentos.
Quando completou dezesseis anos, Kimi foi chamada pelo avô  materno que lhe disse conhecer um jovem bom e gentil. Gostaria muito que ela o esposasse. Ela imediatamente pensou no quanto seria bom se ela tivesse filhos, talvez uma linda menina que seria para ela o que fora para sua mãe. . .
Abriu a caixa e contou  o seu segredo. E Hideno do fundo da caixa, sorria-lhe com ternura. . .
Mas foi então que Kimi percebeu que tudo não passara de uma ilusão, pois no fundo da caixa havia um espelho que refletia sua própria imagem. E ela pensara sempre que ali estava sua mãe.
Esta revelação a teria arrasado alguns antes, mas agora não a perturbava.
Já não precisava do espelho para saber que sua mãe estaria sempre com ela, sofrendo com suas tristezas e alegrando-se com sua felicidade. . .

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